FOSFATIDILCOLINA: Ajuda para o Fígado

O que é Fosfatidilcolina?

A fosfatidilcolina, também conhecida como lecitina, é um fosfolipídeo natural e um dos principais componentes das membranas celulares e das lipoproteínas. Essas moléculas são responsáveis pelo transporte do colesterol. Dessa forma, ela é produzida no fígado ou obtida através da dieta. Antes de mais nada, a fosfatidilcolina é constituída por uma extremidade hidrofílica (formada a partir da união de um grupamento colina e um fosfato) e uma poção hidrofóbica (composta por duas cadeias de ácidos graxos). Dessa maneira, são muitos os resultados. Por exemplo, favorece a formação de bicamadas lipídicas com diferentes funções biológicas. Neste contexto, evidências vêm apontando para os efeitos benéficos da suplementação com fosfatidilcolina na detoxificação hepática e nas funções cognitivas. Além disso, também ajuda na prevenção de úlceras gástricas e de doenças cardiorrespiratórias.

Qual o mecanismo de ação de Fosfatidilcolina…

No Estômago?

Definitivamente, a fosfatidilcolina auxilia na recuperação de danos celulares provocados por processos inflamatórios e/ou pelo estresse oxidativo. Ao ser incorporado à membrana celular, a fosfatidilcolina reestabelece a estrutura da bicamada lipídica, melhorando a proteção física, o controle osmótico, a troca iônica e o potencial de membrana. Do mesmo modo, favorece o funcionamento adequado das células. Primeiramente, no trato gastrointestinal, por exemplo, a fosfatidilcolina reduz o dano tecidual (provocado pelo suco gástrico, pela ação de fármacos ou por microrganismos patogênicos). Em seguida, favorece a produção do muco estomacal através da manutenção da integridade de células epiteliais da mucosa.

No Fígado?

Adicionalmente, a fosfatidilcolina também está presente na bile (fluido produzido pelo fígado), auxiliando no processo de detoxificação hepática. Em suma, ela age através da emulsificação e eliminação de metabólitos hepáticos provenientes da degradação de fármacos ou de moléculas produzidas pelo organismo, tal como a bilirrubina. Neste caso, a associação entre fosfolipídeos e sais biliares resulta na formação de vesículas transportadoras de colesterol e de metabólitos lipossolúveis, que são liberadas no intestino e eliminadas nas fezes. Em síntese, evidências apontam que a suplementação com fosfatidilcolina previne a formação de TMAO (N-óxido de trimetilamina) – metabólito produzido por bactérias presentes na flora intestinal – que, por sua vez, está envolvido no desenvolvimento de diferentes doenças cardiovasculares.

Nos Neurotransmissores?

Por fim, a fosfatidilcolina é a principal fonte de colina para o organismo, sendo este nutriente um precursor na síntese endógena do neurotransmissor acetilcolina. A acetilcolina, por sua vez, é liberada por neurônios pré-sinápticos e exerce seus efeitos biológicos através da interação com receptores nicotínicos ou muscarínicos. Afinal, estes receptores estão localizados tanto no sistema nervoso central (SNC) quanto em tecidos periféricos, desempenhando um papel importante em processos de aprendizado e memória. Dessa forma, evidencias vêm demonstrando que a suplementação com fosfatidilcolina promove um aumento da síntese de acetilcolina, melhorando a neurotransmissão colinérgica e as funções cognitivas. Além disso, aumenta a disponibilidade de fosfolipídeo para o SNC, reduzindo danos neuronais associados ao estresse oxidativo e a doenças neurodegenerativas.

Evidências na Literatura de Fosfatidilcolina

ESTEATOSE HEPÁTICA

Em primeiro lugar, a esteatose hepática não alcoólica é um distúrbio caracterizado pelo acúmulo de gordura no interior dos hepatócitos. Acima de tudo, isso resulta em danos teciduais, alterações nas funções hepáticas, fadiga, perda de peso e dores abdominais.

Nesse sentido, evidências pré-clínicas vêm demonstrando o efeito da suplementação com fosfatidilcolina na melhora da função hepática. Por exemplo, um estudo randomizado, duplo-cego e controlado por placebo realizado com 2843 indivíduos (homens e mulheres, com idade entre 18 e 60 anos) avaliou o efeito da suplementação com este fosfolipídeo no tratamento da esteatose hepática. À primeira vista, a administração por via oral de 300 mg de fosfatidilcolina ao dia, durante 24 semanas, promoveu um aumento significativo na produção de enzimas antioxidantes. Igualmente, foi visto uma melhora das características estruturais do tecido hepático, contribuindo para o tratamento da esteatose hepática não alcoólica.

COLITE ULCERATIVA

De antemão, as úlceras são feridas abertas que se formam devido à ruptura do epitélio em diferentes tecidos do organismo (como pele e mucosas). Sob o mesmo ponto de vista, no trato gastrointestinal, estas feridas podem se desenvolver frente a diferentes situações. Entre elas, estão os processos inflamatórios, refluxo gastroesofágico, infecções bacterianas e o uso crônico de anti-inflamatórios.

Neste contexto, inúmeros estudos pré-clínicos vêm apontando que a fosfatidilcolina atenua o processo inflamatório na mucosa gastrointestinal e reduz a formação de úlceras em decorrência do tratamento crônico com fármacos anti-inflamatórios. Desta forma, tem sido sugerido que a suplementação com fosfatidilcolina pode contribuir para o tratamento de diferentes doenças gastrointestinais.

Em conclusão, um estudo randomizado, duplo-cego e controlado por placebo realizado com 60 indivíduos (homens e mulheres, com idade entre 28 e 43 anos) avaliou o efeito da suplementação por via oral com fosfatidilcolina (2 g ao dia, dividido em 4 doses) sobre os sintomas da colite ulcerativa. Após 12 semanas de tratamento, foi observada uma redução significativa das úlceras e do desconforto abdominal. De acordo com os especialistas, viu se que a suplementação com fosfatidilcolina auxilia na reestruturação do tecido danificado e, com isso, na redução do processo inflamatório intestinal.

DOENÇAS NEURODEGENERATIVAS

Diversas evidências pré-clinicas sustentam o efeito da suplementação com fosfatidilcolina na melhora das funções cognitivas, sobretudo devido ao aumento na concentração de acetilcolina no SNC. Desta forma, um estudo randomizado, duplo-cego e controlado por placebo avaliou o efeito da suplementação com fosfatidilcolina (em associação ao ácido fosfatídico) sobre a função cognitiva de 56 indivíduos (homens e mulheres diagnosticados com Alzheimer, com idade entre 50 e 90 anos). A administração pela via oral de 300 mg de fosfatidilcolina ao dia, durante 8 semanas, resultou em um efeito benéfico na formação da memória, na cognição e na capacidade de desempenhar funções diárias.

Adicionalmente, um estudo conduzido com 899 indivíduos (328 homens e 571 mulheres, com idade entre 55 e 88 anos) avaliou a relação entre os níveis séricos de fosfatidilcolina e o risco de desenvolvimento de demência. Ao longo de 2 anos de estudo, foi observada uma relação direta entre a redução da concentração sérica de fosfatidilcolina e o declínio das funções cognitivas, sugerindo que a suplementação com fosfatidilcolina pode auxiliar na prevenção da demência.

OUTRAS EVIDÊNCIAS

A colina é um nutriente essencial para o organismo, pois participa de diferentes processos metabólitos. No entanto, evidências apontam que a suplementação com colina promove o aumento na concentração sérica de TMAO que, por sua vez, está relacionada ao aumento do risco de desenvolvimento de diferentes doenças metabólicas e cardiovasculares. Assim, um estudo randomizado, duplo-cego e controlado por placebo realizado com 583 indivíduos (homens e mulheres, com idade entre 42 e 60 anos) demonstrou que a suplementação pela via oral com diferentes concentrações de fosfatidilcolina, durante 12 semanas, aumentou a disponibilidade de colina no organismo sem promover o aumento da concentração sérica de TMAO. Igualmente, sugeriu se que a suplementação com fosfatidilcolina apresenta menor risco de desenvolver doenças metabólicas e cardiovasculares.

Literaturas consultadas:

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Literaturas consultadas
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  4. Virtanen JK, Tuomainen TP, Voutilainen S. Dietary intake of choline and phosphatidylcholine and risk of type 2 diabetes in men: The Kuopio Ischaemic Heart Disease Risk Factor Study. Eur J Nutr. 2020;59(8):3857-3861. doi:10.1007/s00394-020-02223-2

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