Os Probióticos e a sua imunidade

Origem do termo Probiótico

O termo probiótico deriva do grego e significa pró-vida, sendo o antônimo de antibiótico, que significa contra a vida. Segundo FULLER, os probióticos são suplementos alimentares que contêm bactérias vivas que produzem efeitos benéficos no hospedeiro, favorecendo o equilíbrio de sua microbiota intestinal.

O termo prebiótico é utilizado para designar ingredientes alimentares não digeríveis, diferente do probiótico. Dessa forma, eles beneficiam o hospedeiro por estimular seletivamente o crescimento e/ou a atividade de uma ou um número limitado de espécies bacterianas no cólon. Por outro lado, o termo simbiótico para designar produtos que contêm probióticos e prebióticos associados.

O papel dos alimentos na nossa imunidade

Desde os tempos antigos, o alimento é essencial e indispensável para vida humana. Ele provê todos os elementos necessários para homem, não só para o desenvolvimento físico, mas também para todas as atividades intelectuais e sociais. Vários
estudos mostram que qualidade de vida está intimamente associada com o tipo de dieta diária e o estilo de vida de cada indivíduo.

O papel da alimentação equilibrada na manutenção da saúde tem despertado interesse pela comunidade científica. Sobretudo, tem produzido inúmeros estudos com o intuito de comprovar a atuação de alguns alimentos na redução de riscos de certas doenças. Além disso, tem incentivado as pesquisas de novos componentes naturais e o desenvolvimento de novos ingredientes. Dessa forma, tem possibilitado a inovação em produtos alimentícios e a criação de novos nichos de mercado para estes ingredientes. Ao mesmo tempo, este fato tem aumentado o interesse mundial para melhorar a qualidade da nutrição e reduzir os gastos com saúde. Isso tudo é possível por meio da prevenção de doenças crônicas, da melhoria da qualidade e da expectativa de vida ativa.

Atualmente, inúmeros fatores influenciam a qualidade da vida moderna. Isso tem levado a população a conscientizar-se da importância de alimentos contendo substâncias que auxiliam a promoção da saúde, melhorando o estado nutricional. A incidência
de morte provocada por câncer, acidente vascular cerebral, aterosclerose, enfermidade hepática, dentre outros, pode ser minimizada por meio de bons hábitos alimentares.

Alimentos funcionais no mundo

Em meados dos anos 80, surgiu no Japão o termo “alimentos funcionais”. Isso ocorreu como resultado de esforços para desenvolver alimentos que possibilitassem a redução dos gastos com saúde pública. Obviamente, foi considerando a elevada expectativa de vida naquele país. O termo “funcional” implica que o alimento tem algum valor principal identificado para o benefício da saúde. Igualmente, inclui a redução do risco de doença para a pessoa que o esteja consumindo.

Os alimentos funcionais são parte importante do bem-estar. Dentre eles estão uma dieta equilibrada e atividade física. O guia alimentar para a população brasileira recomenda o estímulo à prática de atividade física e a adoção de uma dieta variada. Ao mesmo tempo, alerta para não se mistificar os componentes funcionais dos alimentos. Igualmente, eles também são conhecidos por outros nomes, como nutracêuticos, alimentos terapêuticos e alimentos medicinais. Tais alimentos podem conter um ou até mesmo uma combinação de componentes que dão desejáveis efeitos fisiológicos no corpo humano (CRUZ et al., 2007).

Alimentos funcionais no Brasil

No Brasil, estima-se que as vendas de alimentos funcionais chegam a US$ 500 milhões por ano. Assim, isso representa aproximadamente 1% do total do comércio brasileiro de alimentos processados industrializados, segundo dados da Associação Brasileira de Indústrias de Alimentos (ABIA). Esta associação representa os interesses da indústria de alimentos brasileiros e adicionalmente dos produtos lácteos funcionais, nutracêuticos e produtos à base de soja que já ocupam um significativo e promissor mercado.

Sabemos que vários fatores alteram a qualidade da vida moderna. Dessa forma, a preocupação com a alimentação faz a sociedade conhecer cada vez mais a importância dos alimentos que auxiliam na promoção da saúde. Sabemos que diversas doenças são minimizadas se tivermos bons hábitos alimentares. A suplementação da dieta com probióticos e prebióticos pode assegurar o equilíbrio ao intestino humano, e assim desempenhar papel fundamental na nutrição.

Aplicações dos Probióticos

Os probióticos são usados na medicina humana na prevenção e tratamento de doenças, na regulação da microbiota intestinal, em distúrbios do metabolismo gastrintestinal, como imunomoduladores, e na inibição da carcinogênese. Sob o mesmo ponto de vista, na medicina veterinária, além dessas aplicações, podem é também usado como promotores de crescimento. Desse modo, torna-se em uma alternativa aos antibióticos, cujo uso indiscriminado pode selecionar cepas resistentes.

Os probióticos são bactérias que produzem efeitos benéficos no hospedeiro, usadas para prevenir e tratar doenças, como promotores de crescimento e como imunoestimulantes. O papel de uma alimentação saudável na manutenção da saúde tem despertado interesse dos consumidores e da comunidade científica, o que vem estimulando inúmeros estudos com o intuito de comprovar a atuação de componentes bioativos na redução de riscos de certas doenças. Os alimentos funcionais devem produzir benefícios específicos à saúde, reduzindo o risco de diversas doenças, conduzindo ao bem estar físico e mental.

Assim sendo, tem ocorrido um grande avanço no desenvolvimento dos chamados produtos probióticos, prebióticos e simbióticos. Entre os papéis benéficos dos probióticos, são citadas a ativação do sistema imune, atividade anticarcinogênica, síntese de vitaminas do complexo B, melhora na digestão da lactose por indivíduos lactase não persistentes e a modulação dos níveis de colesterol sérico.

Mecanismos de ação dos Probióticos

A microbiota intestinal humana exerce um papel importante tanto na saúde quanto na doença e a suplementação da dieta com probióticos e prebióticos pode assegurar o equilíbrio dessa microbiota. Antes de tudo, os Probióticos são microrganismos vivos, administrados em quantidades adequadas, que conferem benefícios à saúde do hospedeiro. Por outro lado, os Prebióticos são carboidratos não-digeríveis, que afetam beneficamente o hospedeiro, por estimularem seletivamente a proliferação e/ou atividade de populações de bactérias desejáveis no cólon. Todavia, um produto referido como simbiótico é aquele no qual um probiótico e um prebiótico estão combinados. 

Os probióticos podem também afetar patógenos através da síntese de bacteriocinas, de ácidos orgânicos voláteis e de peróxido de hidrogênio, ou atuar sobre o metabolismo celular, reduzindo a concentração de amônia no organismo, e liberando enzimas como a lactase.

Seus efeitos anticarcinogênicos são atribuídos à inibição de enzimas pro-carcinogênicas ou a estimulação do sistema imunitário do hospedeiro. A administração de Lactobacillus casei está relacionada com a indução de uma resposta antitumoral mediada por células T e a ativação de macrófagos, assim como a supressão da formação de tumores de cólon em camundongos e a inibição de metástases pulmonares.

Logo, três possíveis mecanismos de atuação são atribuídos aos probióticos. Primeiramente, a supressão do número de células viáveis através da produção de compostos com atividade antimicrobiana, a competição por nutrientes e a competição por sítios de adesão. O segundo desses mecanismos seria a alteração do metabolismo microbiano, através do aumento ou da diminuição da atividade enzimática. O terceiro seria o estímulo da imunidade do hospedeiro, através do aumento dos níveis de anticorpos e o aumento da atividade dos macrófagos. Por último, a atividade dos probióticos é dividida em efeitos nutricionais, fisiológicos e antimicrobianos.

Os probióticos e suas diversas ações

Os probióticos exercem ações diversas sobre a saúde mediante distintos mecanismos de ação. Atuam acidificando a luz intestinal, se agregando às substâncias que inibem o crescimento de microrganismos patogênicos, consumindo nutrientes específicos, competitividade a receptores intestinais de forma que mantêm a microbiota intestinal evitando a ação de patógenos. Têm atividades imunomoduladoras, principalmente por modificarem a resposta a antígenos; aumentarem a secreção de IgA especifica frente a rotavirus; facilitarem a captação de antígenos na placa de Peyer; produzirem enzimas hidrolíticas, e diminuírem a inflamação intestinal.

Os prebióticos exercem um efeito osmótico no trato gastrintestinal. Isso acontece enquanto não são fermentados. Ao passo que são fermentados pela microbiota endógena, eles aumentam a produção de gás. Portanto, os prebióticos apresentam o risco teórico de aumentar a diarreia em alguns casos (devido ao efeito osmótico) e de serem pouco tolerados por pacientes com síndrome do intestino irritável. Os probióticos, por outro lado, não apresentam esse inconveniente e têm sido efetivos na prevenção e no alívio de diversos episódios clínicos, envolvendo diarreia.

A modulação da microbiota intestinal por esses prebióticos é consequente à alteração da composição desta microbiota por uma fermentação específica, a qual resulta em uma comunidade em que há predomínio de bifidobactérias. Como resultado, vem crescendo as evidências que sugerem que probióticos possam ser efetivos na prevenção de infecção no trato urinário. O mecanismo de ação proposto inclui inibição do crescimento e adesão de patogênicos na mucosa vaginal e uretral antes do acesso destes patógenos dentro da bexiga.

Benefícios para Saúde

No início do século passado, Metchnikoff introduziu a hipótese do efeito benéfico das bactérias por meio da teoria da longevidade dos caucasianos, cuja dieta era baseada na ingestão de leites fermentados. Segundo ele, os lactobacilos presentes nestes produtos
criariam no intestino humano condições desfavoráveis a outros microrganismos que poderiam produzir um efeito tóxico ao hospedeiro.

Muitos estudos clínicos têm investigado o uso de probióticos como suplementos na alimentação em casos de infecções do trato gastrodigestório e condições inflamatórias. Em suma, as evidências demonstram que partes específicas selecionadas da microbiota intestinal saudável exibem poderosas capacidades antipatogênicas e anti-inflamatórias. Além do mais, são envolvidas na modulação da microbiota intestinal.

Os principais benefícios para saúde do uso dos probióticos são:

  • Controle da microbiota intestinal;
  • Estabilização da microbiota intestinal após o uso de antibióticos;
  • Promoção da resistência gastrintestinal à colonização por patógenos;
  • Diminuição da população de patógenos através da produção de ácidos acético e lático,
    de bacteriocinas e de outros compostos antimicrobianos;
  • Promoção da digestão da lactose em indivíduos intolerantes à lactose;
  • Estimulação do sistema imune;
  • Alívio da constipação;
  • Aumento da absorção de minerais e produção de vitaminas.

Auxiliando o intestino

Os probióticos auxiliam a recompor a microbiota intestinal, através da adesão e colonização da mucosa intestinal, ação esta que impede a adesão e subsequente produção de toxinas ou invasão das células epiteliais (dependendo do mecanismo de patogenicidade) por bactérias patogênicas. Adicionalmente, os probióticos competem com as bactérias indesejáveis pelos nutrientes disponíveis no nicho ecológico. Por outro lado, o hospedeiro fornece as quantidades de nutrientes que as bactérias intestinais necessitam e estas indicam ativamente as suas necessidades. Essa relação simbiótica impede uma produção excessiva de nutrientes, a qual favoreceria o estabelecimento de competidores microbianos com potencial patogênico ao hospedeiro. Além disso, os probióticos podem impedir a multiplicação de seus competidores, através de compostos antimicrobianos, principalmente bacteriocinas, ácidos orgânicos
voláteis e peróxido de hidrogênio.

Efeitos dos Probióticos na Imunidade

A maioria relatando estudos com bactérias ácido-lácticas, demonstra que os probióticos têm efeito imunoestimulante em animais e no homem, apesar de ainda não estarem esclarecidos os mecanismos pelos quais isto ocorre. Esse efeito pode estar relacionado à capacidade de os microrganismos do probiótico interagirem com as placas de Peyer e as células epiteliais intestinais, estimulando as células B produtoras de IgA e a migração de células T do intestino. Similarmente, os probióticos favorecem a atividade fagocítica inespecífica dos macrófagos alveolares, sugerindo uma ação sistêmica por secreção de mediadores que estimulariam o sistema imune.

O papel dos probióticos e prebióticos na prática pediátrica

Os estudos indicam que os probióticos podem exercer seus efeitos competindo com patógenos, modificando o ambiente intestinal pela redução do pH, em consequência dos produtos da fermentação, interagindo e modulando a resposta inflamatória e imunológica local e sistêmica, entre outros. Desse modo, ensaios clínicos e meta-análises mostram que os probióticos parecem contribuir para a prevenção da diarreia aguda e da diarreia associada ao uso de antibióticos, além de encurtar a duração da diarreia aguda. No entanto, existem dados contraditórios, além de não existirem ainda estudos confirmando sua efetividade do ponto de vista da relação custo-benefício. Estudos preliminares mostram que probióticos no início da vida podem reduzir a ocorrência de dermatite atópica. A adição de prebióticos em fórmulas para lactentes associa-se com mudança do perfil da microbiota intestinal em relação aos lactentes que recebem fórmula láctea sem prebióticos. 

Fontes:

Publicações Originais: Ciência e Saúde / Ciência Rural / Jornal de Pediatria / Revista Brasileira de Ciências Farmacêuticas / Artigo 5 rng Nutrir Gerais

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